Clásicos • 19 Mar 2023
Agradable, esa sensación de escuchar la voz de mi padre para despertarme, indicando el comienzo de las vacaciones, João… levántate hijo… son las 8, y preparar todo con entusiasmo como aquel que sueña con la playa, el agua cálida y el reencuentro con los tíos.
Bajar las escaleras y ayudar a cargar el coche con todas las maletas y bolsas preparadas la víspera por mi madre, todo hecho rápidamente, … ¡o sino nos encontraremos con el Alentejo en el peor momento! – asegura mi padre.
Ya estamos todos y aún mi padre limpia el parabrisas con una patata para desengrasarlo, porque se esperan más de 600 km de viaje, gran parte de ellos detrás de grandes camiones.
Toma nota dos quilômetros, são 32.648, para depois calcularmos a média e o consumo – diz meu pai. Fechaste a água e deixaste a porta do frigorífico aberta? – responde minha mãe. Acomodamo-nos nos assentos traseiros e meus pais colocam os cintos de segurança. São 8:45, o tanque foi abastecido na véspera e saímos calmamente da Rua Gomes Leal.
Está ensolarado e será uma viagem com muito calor. Despeço-me do Porto com a saudade de quem nasceu na freguesia da Sé, quando passamos pela Ponte de D. Luís…
Entramos na autoestrada à saída da Avenida de Gaia, meu pai acelera até 90 km na descida, sabendo que será um dos raros momentos em que poderá fazê-lo.
Sempre me lembro daquela personagem do turista alemão, Fritz, do Zip-Zip, que dizia que nosso país tinha uma autoestrada estranha: saindo de Lisboa, ele a havia perdido em Vila Franca e só a encontrou novamente ao chegar ao Porto!
Saímos da autoestrada e entramos no cruzamento dos Carvalhos. Ficamos parados na frente da garagem da União Transportadora dos Carvalhos, com os ônibus cor de vinho e uma lista preta. Estamos na Estrada Nacional nº1, que liga o Porto a Lisboa. Vemos os caminhões à nossa frente e que nos farão marchar a passo até que haja oportunidade de ultrapassagem.
Passamos pelos armazéns do Gama, onde às vezes brinco em cima dos sacos de café com Rui, meu grande amigo, e onde têm a fábrica da marmelada que todos apreciam, mas que me enjoa. Sem que eu perceba, começa a dar-me um pouco de sonolência, e eu me encosto à cadeirinha da minha irmã para recuperar as horas de sono perdidas.
Onde estamos? Pergunto assim que acordo: estamos quase na Malaposta – responde minha mãe. Meu pai acabou de parar para verificar a pressão dos pneus e esticar as pernas.
Partimos novamente em direção a Coimbra. Parece que a quantidade de caminhões e ônibus diminuiu, agora seguimos em um grupo de quatro carros que também devem estar indo de férias, pois é visível o balde de praia pelo vidro de trás em dois deles.
Entramos em Coimbra e atravessamos as ruas observando as pessoas, pensando que morrem de inveja ao verem que estamos indo de férias. Adoro os trolebuses amarelos que há em Coimbra, e principalmente me fascinam as linhas de trem que atravessam o centro em frente à estação de Coimbra A. Vejo o rio Mondego abaixo à medida que atravessamos a ponte, e em seguida a entrada do Portugal dos Pequenitos, onde fui algumas vezes em passeios escolares, e ouço o comentário que minha mãe sempre faz – passamos por aqui tantas vezes, devemos ir lá algum dia!
Passamos pela placa que indica Conímbriga e alguns quilômetros depois passamos pela placa que indica Figueiró dos Vinhos, onde já passamos alguns fins de semana e onde até fizemos um Magusto com os colegas do Banco onde meu pai trabalha.
Mais caminhões em passo de caracol porque estamos subindo, e o jogo de paciência para ultrapassá-los nos pontos onde a estrada é mais larga e com maior visibilidade. Eis que surge na nossa frente um caminhão carregado de batatas que faz sinal para a direita, indicando que meu pai pode acelerar e mostrar o que vale um Renault 10 e ultrapassá-lo. Meu pai agradece com uma buzinada e comenta – se todos fossem assim…
Começo a sentir o estômago vazio, pensando no arroz de tomate quentinho, e minha irmã pequenina também – calma, já estamos chegando a Pombal – tranquiliza minha mãe.
Fotografia: Silva e Costa